Meditação da Montanha Sentando-se numa posição confortável,
No zafu ou na cadeira,
Permita que as suas costas fiquem direitas,
Mas não rígidas,
Alinhando os ombros com as ancas e deixando as mãos a repousar no colo ou sobre os joelhos.
Se estiver sentado numa cadeira,
Coloque os pés bem assentos no chão,
Com os joelhos dobrados a 90 graus e com as pernas descruzadas,
Adotando,
Acima de tudo,
Uma postura que incorpore a sua intenção de estar presente e desperto e,
Gentilmente,
Quando se sentir preparado,
Deixe que o seu olhar se feche,
Definindo a sua intenção para esta prática.
Não há mais nenhum sítio onde tenha de estar,
Nem mais nada a fazer,
Apenas aqui,
Sentado,
Com a sua experiência tal como ela for,
Momento a momento,
Começando por trazer a sua atenção para a respiração e para as sensações físicas da respiração,
Deixando que a respiração flua naturalmente,
Acompanhando apenas cada movimento da inspiração,
Desde o seu início,
Meio e fim,
E cada expiração,
Desde o seu início,
Meio,
Até o seu fim,
Permitindo ao corpo estar quieto,
Apreciando a sensação de quietude,
De estar completo,
De não ser preciso mais nada neste momento.
Estar aqui é tudo o que precisa,
Sentindo a respiração acontecer neste momento,
Notando como o corpo se prepara para a entrada do ar e o que muda no corpo para o ar sair,
E deixando agora que a respiração possa ser apenas um pano de fundo no campo da atenção,
Trazendo para o primeiro plano,
No campo da sua consciência,
A imagem de uma montanha.
Pode ser uma montanha que conheça bem ou menos bem,
Uma montanha onde tenha estado,
Que tenha visto em algum sítio,
Ou pode ser a montanha que a sua mente quiser criar neste momento.
Talvez seja possível ter presente a imagem dessa montanha,
Ou se não conseguir ver bem essa imagem,
Talvez consiga ter um sentido da sua forma,
Da sua estrutura,
Notando o seu pico alto e esguio,
Ou talvez vários picos,
As laterais escarpadas ou escorredias,
A sua base larga,
Bem enraizada,
Na crosta terrestre,
Tendo bem presente a magnitude dessa montanha.
Talvez nessa montanha haja árvores e arbustos verdes e flores coloridas nas encostas,
Ou talvez haja rochas e encostas de granito.
Podem haver lagos na base da montanha,
Quedas de água que desagoem e rios.
Tenha presente o melhor que conseguir,
A imagem da sua montanha.
Observando as qualidades da montanha,
Quando se sentir preparado,
Tentando trazer a imagem dessa montanha para o seu corpo,
Aqui sentado,
De forma que a sua mente,
O corpo e a montanha passem a ser um só,
Passando assim a partilhar a robustez,
A quietude e a força da montanha.
Enraizado nessa posição,
Sentado,
A sua cabeça torna-se o pico da montanha,
Suportada pelo resto do corpo.
Os seus ombros e os seus braços tornam-se os lados,
As encostas da montanha.
As suas nádegas e pernas,
A base sólida da montanha,
Que o enraiza à cadeira ou ao zafu,
Notando a elevação da sua coluna,
Direita até ao pescoço.
A cada respiração torna-se um pouco mais essa montanha,
Cheia de vida,
Mas firme na sua quietude,
Sem palavras ou pensamentos,
Apenas uma presença imóvel,
Centrada,
Enraizada,
E aqui,
Sentado.
Vai tomando consciência que à medida que o Sol cruza o Céu,
As cores e as sombras vão mudando a cada momento,
Iluminando umas partes da montanha e deixando outras na sombra,
Notando que o dia pode encher de luz os rios,
As flores,
As quedas de água,
E que a noite cobre a montanha,
Às vezes com escuridão e às vezes com um céu muito estrelado.
No inverno,
A montanha cobre-se de branco com a neve,
Mas na primavera o gelo começa a derreter,
Deixando a vida começar a brotar das árvores e das flores.
Talvez já haja até pássaros a cantar.
No verão,
As sombras podem nem ser suficientes para os turistas que a visitam,
Se poderem abrigar do calor.
Ou talvez a montanha seja tão alta que ainda preserva alguma neve no seu topo.
No outono,
Cobre-se de brilhantes cores de fogo.
Pode haver visitantes que preferem escalar as encostas escarpadas.
E pode haver outros que prefiram esquiar na sua neve fofa.
Pode haver dias em que os visitantes têm uma bonita vista da montanha e outros dias em que só se vê o nevoeiro e as nuvens escuras.
E podem até haver outros dias de tempestade,
Com chuva ou vento,
Em que a montanha não pode ser visitada.
Mas nada disto interessa para a montanha.
Independentemente de tudo o que possa acontecer,
A montanha apenas permanece sentada,
Imóvel a cada momento.
Ainda que constantemente em mudança,
A montanha é apenas ela própria.
Os visitantes podem gostar ou não de a ver.
As nuvens podem ir e voltar.
Pode ser dia ou noite,
Verão ou inverno,
Chover ou fazer sol.
E a montanha permanece estável,
Robusta,
Enraizada.
Também aqui,
Sentado,
A meditar.
Pode aprender com esta experiência da montanha.
Perante a mudança e os desafios da vida,
Pode incorporar esta robustez,
Esta estabilidade,
Esta quietude.
Nas nossas vidas somos confrontados com a impermanência de todas as coisas.
Na nossa mente,
No nosso corpo,
Na nossa vida.
Somos confrontados com períodos de luz e outros de escuridão ou tempestade.
Mas como acontece na montanha,
Nada fica,
Tudo muda.
E assim também os nossos pensamentos,
As nossas emoções,
As nossas preocupações,
Vão e vêm.
Como a montanha pode usar desta robustez e estabilidade para o que surgir,
Quando surgir.
Não ignorando ou evitando,
Mas enfrentando com esta mesma força da montanha.
E ao chegar ao fim desta prática,
Convido-o a trazer a sua atenção novamente para a respiração,
Que o acompanhou durante toda esta meditação.
Apenas sentindo a respiração acontecer,
Aqui e agora,
E alargando agora também o espaço da sua consciência para sentir novamente o seu corpo como um todo.
Notando o espaço que ele ocupa e o que o envolve.
A temperatura,
Os sons,
E suavemente abrindo o seu olhar,
Tomando contato com a luz,
As cores,
E os objetos.