Olá,
Seja bem-vindo e bem-vinda.
Mais um momento especial,
Mais um momento de reflexão que nos leva ao campo da identidade,
Ao campo da autenticidade.
E através de um conto tibetano,
Raposa que pretendia ser rainha,
É o nome do conto,
Que traz muita informação sobre o que acabei de dizer,
A autenticidade,
Sobre a questão da identidade e sobre a questão também do ego.
Vamos saber então o que é que encerra esta história.
Era uma vez uma ambiciosa Raposa que um dia entrou numa aldeia com o intuito de roubar comida e ao passar junto a uma tinturaria caiu numa tina de anil.
Anil é uma cor azul,
Indigo,
Entre o violeta e o azul.
Assustada,
Levantou-se no ápice e desatou a correr para a sua toca.
Sob os raios do sol,
O seu corpo brilhava como pedras preciosas.
Quando chegou à floresta,
As outras Raposas olharam-na atónitas e perguntaram-lhe,
Quem és tu?
E ela respondeu,
Chamo-me Jiasu.
O emperador do céu mandou-me para aqui para ser a rainha dos quadrúpedes,
Respondeu a Raposa.
E logo todas as Raposas fizeram saber isto a todos os outros animais.
E como nunca tinham visto tão bela cor de pele e de pelo,
E não reconhecendo que espécie de animal ela era,
Proclamaram-na rainha.
Depois a Raposa montou-se sobre um grande elefante,
Fez do leão o seu guarda-costas e,
Seguida de um grande cortejo,
Passeou pelo seu reino.
Deu ordem para que todos os tigres e todos os reis dos outros animais fossem à sua corte render-lhe homenagem.
E quando um dia pensou na sua mãe,
Que morava longe,
Num vale,
Que ela viesse partilhar da sua riqueza e glória,
Mandou para tal uma Raposa com a seguinte mensagem,
Querida mãe,
A tua filha agora é rainha,
Vem depressa.
A mãe da Raposa perguntou ao mensageiro,
Como está a minha filha?
Vive com ostentação?
O mensageiro respondeu,
Vivo rodeada de luxo,
Com grandes pompas e esplendor.
Na sua corte está rodeada pelo leão,
O tigre,
O elefante e,
Mais ao longe,
Por todas as raposas.
Temos de fazer tudo o que ela quer e,
Muitas vezes,
Tem mau gênio,
Injuria e lança olhares furiosos aos seus súbditos.
Ao ouvir isto,
A mãe Raposa não ficou nada satisfeita e disse,
Hum,
Ela não devia comportar-se assim,
Diz-lhe que não vou.
Perante esta recusa,
O mensageiro não pôde cumprir totalmente a sua missão,
Mas ficou a saber que a sua rainha era uma Raposa.
Quando regressou a casa,
Disse imediatamente para as outras raposas,
Basta de cerimónias,
Esta rainha não é senão uma Raposa como nós,
Sei-o porque vi a sua mãe,
Ela é exatamente como vocês e eu.
Estas notícias rapidamente se espalharam e todos ficaram indignados,
Mas queriam ter a certeza se a rainha era ou não uma Raposa e uma delas sugeriu que todas as raposas regoguem,
Se ela for mesmo Raposa,
Quando nos ouvir automaticamente responderá.
Regogar é o som característico da espécie.
Concordando com tal plano,
Todas as raposas levantaram as suas vozes em coro.
A então chamada rainha andava na altura passeando sentada no seu elefante e quando ouviu as suas semelhantes não pôde deixar ela também de soltar um longo regogo.
O elefante,
Ao ouvi-la,
Imediatamente percebeu quem ela era e disse furioso,
Sua impostora,
Tu és uma Raposa,
Como te atreves a montar no meu dorso?
E com um gesto o elefante fez cair a pretenciosa Raposa por terra e esmagou com as suas patas aquela que os havia tiranizado.
Muito bem,
E chegamos ao fim deste conto tibetano que acaba aqui de uma forma dramática,
Mas que nos diz muito sobre o nosso comportamento.
Muitos de nós,
No fundo,
Vivemos um pouco como esta Raposa.
Muitas pessoas têm um ego enorme demais e vivem à sombra dos seus estatutos,
Dos seus cargos,
Das coisas que têm,
Das coisas materiais,
Das suas profissões,
Enfim.
E deviam pensar que,
Na realidade,
Nós não somos a nossa profissão,
Não somos o nosso cargo,
Não somos a nossa função,
Não somos a nossa localização,
Não somos o que temos.
Porque,
No fundo,
Se eu deixar de ser diretor ou se eu deixar de ser empreendedor ou tiver um cargo importante,
Eu continuo a ser uma pessoa.
Por essas pessoas,
Não tendo um cargo,
Não tendo uma função,
Não tendo coisas materiais,
Elas sentem que deixam de ser gente,
Deixam de existir.
E isso é uma coisa gravíssima que se apodera de nós e cria medo,
Cria ansiedade,
Cria stress.
Mas há pessoas assim.
E temos que estar atentos,
Temos que estar atentos a escolher as nossas companhias,
Os nossos parceiros,
Porque devemos afastar-nos deste tipo de pessoas,
Que vivem demasiadamente a sua função,
O seu cargo,
A sua profissão,
E representam um outro papel.
Portanto,
Acabam por não ser autênticos e por nem saber sobre a sua identidade.
Perderam-se na sua identidade.
Representam um papel e os valores que esse papel exige que representem,
Mas depois têm outros,
Na verdade,
Que vivem sempre com medo de serem desmascarados.
E sempre a representar aquele papel e a exigir mais dos outros.
Normalmente estas pessoas,
Como têm o ego muito exacerbado,
Acabam por ter um traço psicológico de narcisistas.
E então exigem reconhecimento,
Exigem elogios,
Exigem que lhes prestem,
Digamos que,
Vassalagem.
Exigem coisas que as chamam de respeito.
Respeito,
Tens que me respeitar,
Quando no fundo isto quer dizer que tens que te submeter.
E então,
Tem cuidado,
Tu estás a pensar agora nisto?
Estas pessoas são muito numerosas,
É fácil encontrar gente como esta,
Junto com pessoas que gostam genuinamente dos outros e vivem uma vida que é a sua.
Dentro da sua identidade têm consciência de como são,
Daquilo que são,
E vivem também com autenticidade.
Aquilo que são dentro de casa,
São fora de casa e não representam papéis assim tão distantes uns dos outros.
E então,
Fica bem e até breve.